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Artigos e Notícias

Mais de 700 mil empresas fecharam no Brasil em 2020: a sua foi uma delas?

Segundo o IBGE, até julho deste ano, cerca de 716 mil empresas fecharam no país. Destas, 99,6% foram micro e pequenas empresas.

A pandemia de Covid-19 foi a maior catalisadora da crise, mas a reflexão que faço é: se no mesmo segmento, na mesma região, outras empresas não encerraram as atividades, o que fizeram de diferente?

Essa provocação não pretende minimizar o cenário sem precedentes causado pelo coronavírus, mas apenas chamar a atenção para questões sempre presentes no cotidiano de quem trabalha com empresas e testemunha sempre os mesmos problemas estruturais.

Toda crise acelera e intensifica as complicações que já existiam. Se o empreendimento já não estava bem antes da pandemia, a tendência natural é piorar.

Qualquer estrutura fragilizada (e com suas fraquezas negligenciadas) tende a quebrar se o entorno se altera bruscamente e se ocorre demanda maior de esforço para realização de seus atributos.

Contudo, se as bases estão firmes, mesmo que os contratempos causem estragos, há muito mais chance de recuperação.

Minha experiencia comprova que a imensa maioria das micro e pequenas empresas não possui estruturação adequada. Os alicerces da gestão raramente são sólidos, pois a cultura do empresário que “faz tudo sozinho, porque é mais barato” impera no Brasil.

De modo geral, as pessoas não enxergam que o investimento inicial em estruturação (especialmente financeira e legal) evita custos muito maiores com problemas que vão surgir no futuro. E eles surgirão: o mercado, assim como a vida, não é estático, é cíclico e oscilante.

Prevenir será sempre mais barato do que remediar. É clichê, porque é verdade.

Não me refiro, aqui, a engessar o empreendimento, em seu início, com uma série de questões burocráticas desnecessárias e tampouco pretendo sugerir estruturas sofisticadas para empresas pequenas.

A ideia é que cada vez mais os empreendedores tenham em mente a necessidade de começar a operar com um desenho básico de seu negócio, um planejamento razoável e cuidados formais mínimos para evitar transtornos posteriores.

Isso significa que precisam investir em consultoria especializada em áreas-chave para a estruturação?

Sim, pois ninguém domina todas as áreas do negócio a ponto de conseguir focar com excelência na atividade-fim e otimizar sozinho as atividades-meio.

Alguns exemplos de problemas que nos chegam para resolver no do dia-a-dia:

  • Escolha do tipo societário inadequado ou menos vantajoso para o negócio.
  • Não fixação de direitos e obrigações dos sócios.
  • Escolha de sócios sem análise prévia de perfil ou sem esclarecer propósito comum.
  • Ausência de planejamento financeiro e de gestão financeira no decorrer da operação.
  • Ausência de análise de mercado.
  • Contratação de colaboradores de forma irregular.
  • Ausência de registro de marca.
  • Escrituração contábil precária.
  • Contratos com fornecedores com cláusulas prejudiciais ou sem as cláusulas necessárias.
  • Falta de cuidado com armazenamento e gestão de dados de clientes.
  • Confusão patrimonial entre sócio e empresa.
  • Falta de indicadores para monitorar o negócio.
  • Desconhecimento da legislação aplicável ao ramo da empresa.
  • Má gestão de canais digitais e comunicação falha em geral.
  • Ausência de delegação de tarefas ou delegação descontrolada.
  • Apego excessivo ao objeto social original quando o mercado demanda mudança.
  • Utilização de “modelos prontos” sem adequação ao negócio.

 

Esses são somente os casos mais comuns, que vemos diariamente ao tentarmos auxiliar empresas já em estado de sofrimento, ou seja, em operação deficitária e com dificuldades de organização para se manter no mercado.

Importante mencionar, também, que tais pontos nunca ocorrem isoladamente.

O cenário de desgaste normalmente ocorre pelo descaso do empresário com tais itens no início do negócio ou até mesmo por sua arrogância – sim, alguns referem que “não sabiam que as coisas funcionavam assim” (não planejaram e não se importaram em consultar especialistas) ou que “dariam conta de fazer tudo sozinhos” (novamente, não projetaram os cenários adequadamente).

O que é preciso, portanto, para mudar a cultura de despreparo e amadorismo de gestão nas pequenas empresas no Brasil?

Criar um ambiente favorável ao mindset do planejamento objetivo, demonstrar que é possível simplificar as regras do jogo com uma comunicação clara e focada no que é necessário àquele negócio específico e disponibilizar meios rápidos de solução que venham ao encontro das dores do empreendedor,  o qual, muitas vezes, sente-se sozinho ao ter que tomar decisões sobre temas que desconhece e que lhe tiram o olhar do coração de seu negócio.

Além disso, fomentar parcerias estratégicas e benéficas a esse ambiente, fortalecer redes de profissionais atentos às mudanças do mercado e lembrar, acima de tudo, que negócios são criados e geridos por pessoas.

 

por Luciana Farias