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É PRECISO DESAPEGAR DA NECESSIDADE DE BRIGAR 

 

É PRECISO DESAPEGAR DA NECESSIDADE DE BRIGAR 

 

Em artigo recente, escrevi sobre os principais motivos pelos quais as pessoas brigam. (https://graavadora.com.br/mfo/news-posts/por-que-voce-briga/)

É satisfatório entender os reais motivos pelos quais brigamos, pois, a partir disso, podemos trabalhar para reagir de forma diversa do habitual e evitar os problemas que as brigas nos causam.

Contudo, há outros obstáculos a ultrapassar: o hábito de brigar é um deles.

Estamos tão acostumados a brigar, que o “não brigar” pode não fazer sentido para nossa mente à primeira vista, como se não houvesse outra forma de agir.

Se passamos décadas de nossa vida usando a briga como forma de reação (consciente ou não) a determinados fatos e situações, nosso repertório fica limitado às reações viscerais e viciadas produzidas pelos mecanismos de defesa.

Diante desse cenário, precisamos desapegar do hábito de brigar.

Inicialmente, reconhecer que possuímos esse hábito é importante, por mais desconfortável que seja tomar consciência disso. Mas, atenção: a tendência, nesse ponto, será sempre a de justificar nossa atitude.

Pense em suas reações, de modo geral, especialmente quando se envolve em conflitos. Na maior parte das vezes, há briga? Caso sim, o hábito está ali.

Se você pensou agora: “Eu brigo, mas eu nunca começo a briga; eu brigo apenas para me defender”, é seu modo sabotador inconsciente falando. Para manter o mecanismo de defesa vigente, o cérebro lança mão desse tipo de pensamento de sabotagem. Reconheça: se você se envolve em brigas de qualquer tipo, agindo ou reagindo, há o hábito. Ponto final. Não importa a ordem dos fatores.

Faça o seguinte: caso não consiga neutralizar por completo as justificativas, ponha-as de lado, em uma gaveta mental provisória e aceite, por alguns instantes, a hipótese de que você está habituado a brigar.

Como todo hábito, ele levou muito tempo para se tornar uma ação ou reação automática. Você treinou muito, mesmo sem a intenção consciente, para que seu cérebro, ao primeiro sinal de ameaça, acionasse o mecanismo de defesa – no caso: brigar.

Desfazer o hábito requer o mesmo treino. Só que conscientemente e na direção contrária.

Primeiro, é preciso identificar e reconhecer que a ameaça que gerou o mecanismo de defesa não é real, que foi apenas uma forma de autoproteção, quando você não tinha tanto discernimento das coisas.

Muito estudo, psicoterapia, meditação regular, coaching, processos terapêuticos sistêmicos, pesquisas e experiências pessoais e profissionais voltadas ao autoconhecimento e conhecimento das relações humanas: estes são caminhos para facilitar a identificação dos reais motivos pelos quais brigamos. Particularmente, levei muitos anos para alterar meu padrão, errei e acertei, mas, justamente por ter mudado, sei que é possível.

Algumas perguntas importantes já podem dar uma dica de onde começar a busca para identificar seus gatilhos.

Pare um instante, respire fundo, relaxe. Conecte-se com seu corpo, sinta a respiração fluir lenta e profundamente. Quando estiver finalmente olhando para si, com equilíbrio, sem interferências externas, lance algumas perguntas a você mesmo, sem intenção de obter “respostas certas” e imediatas, mas apenas para que a mente se mova na busca por possíveis caminhos de descobertas sobre si.

Quando você lembra de fatos da sua infância, o que lhe vem à cabeça?

Diante dessas imagens/memórias/fatos, que sentimentos lhe surgem? (sentimentos, não pensamentos)

Como era sua a relação com seus pais?

Que sentimentos você tem da infância em relação à sua mãe?  E a seu pai?

Que sentimentos relacionados a fatos/situações familiares surgem agora com mais intensidade?

Como foi sua vida escolar? Você sofreu ou praticou bullying?

Preste atenção em suas sensações físicas (mesmo as mais sutis) ao lembrar de tais sentimentos. O que ocorre em seu corpo?

Respire. Autorize a mente trazer a informação à sua consciência.

É normal tentar fugir. Seu cérebro vai tentar lhe proteger com pensamentos e racionalizações. Respire fundo.

Após alguns minutos de auto pesquisa, anote todas as informações, palavras, nomes, memórias, sentimentos, sensações e tudo que sua mente lhe trouxe, mesmo que, de início, não faça muito sentido lógico.

Diversos “filmes” podem ter passado por sua mente, de forma desordenada, sensações boas e muito ruins, sorriso e desconforto, e assim por diante.

O que nos interessa, aqui, são as situações desconfortáveis, as angústias, o que não pôde ser encarado ou resolvido, pois não havia estrutura emocional na época. Tudo que sua mente “empacotou” e escondeu abaixo da consciência para evitar a dor e que se transformou em mecanismo de defesa na vida adulta, como um efeito colateral.

Esse é o rico material para analisar. Nele reside a maioria de seus gatilhos.

Digamos que, depois de algum tempo de buscas, você tenha identificado um mecanismo de defesa e as suas situações-gatilho.

A tarefa, agora, é identificá-lo no exato momento em que vem à tona.

Por quê? Porque nosso objetivo é que ele não seja automaticamente acionado diante da suposta ameaça.

Isso levará algum tempo, como qualquer processo de criar ou desfazer um hábito. É preciso condicionamento e autocontrole.

Com treino e tempo, chegará o momento em que não haverá mais a reação automática e a situação não terá mais capacidade de acionar gatilhos de briga em sua mente.

Eu possuía muitos mecanismos de defesa e consegui neutralizá-los ao longo dos anos. Portanto, sei que todos que quiserem e tiverem disposição de buscar as informações, também possuem condições de fazê-lo.

Falaremos mais sobre esse tema nos próximos artigos.

 

por Luciana Farias