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Artigos e Notícias

BUROCRACIA E EMOÇÃO: O QUE OS CLIENTES PENSAM QUE É O PROBLEMA E O QUE REALMENTE É

Nos meus mais de 20 anos atuando como advogada de empresas, famílias e indivíduos, enxergo dois grandes eixos de problemas que os levam a buscar auxílio jurídico:

 

Primeiro: questões “burocráticas” malconduzidas, feitas de forma ou no tempo errados ou até mesmo jamais realizadas.

 

Significa dizer que, basicamente, as pessoas:

 

  • não leem com atenção os documentos que assinam;
  • não consultam especialistas antes de fazer negócios em geral;
  • desconhecem suas obrigações e seus direitos;
  • não investem em informação qualificada;
  • não fazem contratos ou os fazem de forma incorreta;
  • não recolhem tributos devidos;
  • não registram informações legais necessárias;
  • não regularizam suas pendências documentais e/ou financeiras;
  • não conversam sobre regularizações necessárias na vida pessoal e patrimonial;
  • escolhem pagar mais caro para remediar, pois não investiram em prevenir.

 

Quem trabalha com esse tipo de atendimento, certamente, já ouviu algumas das frases abaixo. Eu as ouço com frequência!

 

“Fizemos um acordo de parceria, mas não assinamos nada”

“Nunca fizemos contrato”

“Foi uma doação de boca mesmo”

“Encerrei o negócio, mas não baixei a empresa na junta comercial”

“Nem sabia que esse CNPJ ainda estava ativo, há tempos não operamos”

“Achei que matrícula do imóvel e escritura eram a mesma coisa”

“Quando eu morrer, eles que se virem”.

“Nunca registramos a união estável”

“Não pensei no regime de bens quando nos casamos”

“Só eu paguei o imóvel quando éramos casados, então é meu”

“Meu parente/vizinho é advogado/contador e me disse que podia…”

“Vi na internet que ….”

“Depois vai ter ‘Refis’ e regularizo tudo”

“A culpa é do pai/mãe que davam tudo pra ele/ela”

“Como faz para não pagar imposto?”

“Achei que ele/ela não ia me processar”

 

Os exemplos acima, embora soem engraçados à primeira vista, são muito mais comuns do que se imagina.

 

Sabemos que o sistema legal brasileiro, em geral, é muito confuso e complexo, até mesmo para quem é da área. É improvável, portanto, que o indivíduo leigo tenha condições de resolver sozinho as suas pendencias e, também, evitar novos percalços.

 

Segundo: questões emocionais. Essas estão intimamente ligadas ao primeiro item, porém não aparecem de forma óbvia.

 

Normalmente, os clientes chegam à consulta porque, sozinhos (ou com profissionais anteriores) não conseguiram resolver seus problemas.

 

Uma das chaves da solução passa por esclarecer, de fato, qual é o problema.

 

Na maioria das vezes, a demanda jurídica esconde emaranhamentos emocionais antigos, da pessoa, de seu sistema familiar e, também, dos indivíduos com os quais o cliente está tendo o conflito.

 

Até mesmo as organizações possuem problemas decorrentes do seu próprio sistema, bem como das pessoas que a compõem.

 

Nada disso vem à tona imediatamente. Compete ao profissional fazer as perguntas adequadas, entender o contexto do cliente e todo o histórico de fatos e sentimento que circundam o caso.

 

Há casos em que poucas reuniões são suficientes para reorganizar o entendimento de todos e dar andamento das questões pendentes; outros, contudo, demandam mais tempo e procedimentos.

 

Os casos de família e sucessões e os de problemas societários são os que mais evidenciam os imbróglios emocionais dos envolvidos, pois tratam com um tema de efeito visceral: complicações em relações humanas.

 

Por isso, assim como é de extrema relevância entender e resolver a “burocracia” (os documentos, os direitos e deveres), é também imprescindível atentar às emoções, crenças e percepções dos indivíduos, abordando, indiretamente, questões psicológicas que impactarão a solução do caso.

 

Todos saem ganhando, inclusive financeiramente, quando a situação é vista sob esses aspectos.

 

por Luciana Farias